Até ontem eu não sabia quem era Kanye West; hoje sei que é um grosso. Continuo sabendo o que já sabia sobre Beyoncé: que é gostosa, e que aeróbica não combina com a arte de cantar. Não sabia quem era Lady Gaga, e agora sei que de gagá ela tem o seu tanto. Não sabia quem era Katy Perry, agora sei, e so what. Sabia mais ou menos quem era Pink, de quem agora conheço o lado acrobático – e acrobacias não combinam com a arte de cantar. Sabia quem era o Green Day, continuo sabendo, e so what. Não sabia quem era Taylor Swift – nome que, fora de contexto, eu acharia que é marca de apresuntado; agora sei, e so what. Não sabia quem era Jay Z (eu confundo essas letras todas, esses jays todos); quando o vi chegando de limusine e acenando para ninguém na rua, achei que era um doidão – eu tinha razão.
Isso é o que me ficou de um VMA tido e havido como acima da média.
* * *
Uma vez vi rappers numa TV sem som e levei uns segundos para me tocar que não era um papo de surdos-mudos. Não entendo o gestual deles, o que querem dizer aqueles braços e ombros enfatizando versos como “eu sou fodão pra caralho”, ou “vai tomar no cu, sua piranha fudida, fica longe da minha grana”, ou “minha rola é grande e eu sou cheio dos ouro”, ou “pois é, o mundo era uma bosta antes de eu aparecer com todo esse talento da porra que só eu tenho, seus cu”.
Acho que envelhecer é isso.
32 comentários
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14 setembro 2009 às 11:46 am
Sérgio F. Mendes
Bem, fora a Beyoncé dos pernões eu não conheço mais ninguém aí listado. E, pela vossa descrição, parece que fico na via reta.
14 setembro 2009 às 3:20 pm
Érico
Mottafucka shotgun mottafucka clap bum yeah.
14 setembro 2009 às 4:48 pm
Silésio Roldão
Coincidência…
Você viu a perfórmance de ontem da tal Lady Gaga? Foi ou não foi uma mistura de Britney Spears com Gwar?
Hoje, meti a boca no trombone: disse, para uma sala cheia de adolescentes ligados nessas coisas, que aquilo tudo era uma bosta, e que apreciar aquilo só podia ser indício de uma espécie de suburbanidade anímica (não com tais termos). Disse, além do mais, que, por pior que tenha sido a música pop das últimas duas décadas, ao menos se exigia que os artistas soubessem cantar, tocar, compor ou dançar de verdade – o que não acontece hoje, em que há gritarias por cima de batidões. Enfim, tudo aquilo me deixou puto e meio nauseado.
14 setembro 2009 às 9:05 pm
Orlando
Na mais reta e iluminada delas, Sérgio.
Damn, muthafucka, damn, bitch, damn, slut, cutyaface withanife, damn. Não sei se respeitei a métrica, Érico.
Gostei mais de vê-la vestida de pirulito menstruado, Donato. Gwar, claro. Eu acho, e me baseio apenas no cirque du pinkeil, que o fim das gravadoras está criando uma espécie de vaudeville de lunáticos – que foi o que me pareceu esse VMA: já que os soi disant artistas não podem (ou não esperam) mais vender discos, se penduram em cordas, se ofendem e se vestem como viúvas sangrentas. Sucesso é ser um trending topic.
14 setembro 2009 às 10:44 pm
Caio Marinho
Há toda uma retórica por trás da arte do [i]Free-Style rapping[/i], pois como não: http://www.collegehumor.com/video:1829648
***
Apropriada a tag [i]animais[/i]. Seguindo a disciplina do Eterno Retorno, a música-que-vende já volta completamente ao batuque tribal.
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Acertei o código pra itálico?
15 setembro 2009 às 9:49 am
Orlando
Veja você, Caio Marinho: tudo afinal se resume ao uso de variantes não-padrão, como diria o insigne professor Banho. E não se esqueça que Homero, para todos os efeitos, era uma espécie de rapper. Errou o código: os “ii” têm que vir entre sinais de maior e menor, que nem aparecem quando eu tento digitá-los.
16 setembro 2009 às 1:13 am
Yan
Júlio Medaglia e Nei Lopes, cada qual radical ao seu estilo, ainda que bêbados de genialidade, acertaram: onde foram parar os negrões elegantes, refinados, sensíveis e machões de verdade de nosso Brasil? Gente como Cartola, Pixinguinha, Noite Ilustrada, Lupicínio e mais recentemente, Paulinho da Viola e Branca de Neve, que pegavam no batente sério, na barra pesada da música e da vida não deixaram herdeiros nem esperança? Isso sem falar dos seus partners americanos: Robert Johnson, Blind Lemon Jefferson e o furioso John Lee Hooker, que se estivesse vivo, botaria esses moleques na linha. Hoje, abastecendo a geladeira da mediocridade e da aculturação burra, vemos e ouvimos esse monte de porcaria baseada no extremo niilismo: tanto isso quanto aquelas pauladas deathgrindcorenoisebosta, a música evangélica e os new pagodes dão-se as patas aos Rappers e fazem nosso mundo cada vez mais curiosamente escaleno.
Como você disse, tudo isso parece falta de religião.
Estou quase vendo aquele feiticeiro do Daomé chorando, lá no passado, no século 5, quando viu no rosário de Fá o futuro da música africana!
Abraço!
16 setembro 2009 às 7:43 am
Orlando
Quanto ao “machões”, Yan Kaô, acho que tudo está mais ou menos como sempre, mas é certo que elegância, refinamento e sensibilidade andam em falta, e não só nesse lado aí. À sua lista de americanos originais eu acrescentaria toda a entressafra: Cab Calloway, Billy Eckstine, Satchmo, Nat King Cole, Sammy Davis Jr., Marvin Gaye, os superbacanas dos Stylistics… a lista pode ser parecida com o infinito.
Falando no bruxo do Daomé: recebeu o Manu Dibango que te mandei?
16 setembro 2009 às 9:52 am
Yan
Sobre os Bluesmen, é que eu quis ficar na fonte. Essa entressafra que você cita é a que inventou a elegância e mostrou ao mundo como comer a mulher dos outros com aquiescência e admiração dos maridos. Sim, eu recebi o Manu. Quando o homem punha a boca no sax, todos estes Rappers de merda brochavam!
17 setembro 2009 às 1:09 pm
Yan
Prá matar a música ruim:
Agora, as mulheres de Deus, muito mais poderosas que esses babacas bombados!
É isso. Todas me fizeram chorar!! Inferno!
17 setembro 2009 às 4:14 pm
Orlando
É o Lula no surdão aí com a Clementina, Yan? E essa Bessie Smith é uma raridade.
17 setembro 2009 às 7:40 pm
Breno
acredito que haja apenas uma resposta a toda essa indigência: o boicote, puro e simples. não ouvir, não ver, não saber quem são, não tomar conhecimento. religião talvez falte, mas com certeza sobra ego, o que é sempre um problema.
17 setembro 2009 às 11:24 pm
Orlando
Não pode haver melhor resposta, Breno, nem mais sábia. Aliás, eu estava esperando ver você no bota-fora da Júlia. Saudades suas.
18 setembro 2009 às 1:58 am
Patty Diphusa
engraçado como as coisas funcionam. Fiquei sabendo de Kanye West e sua grossura desde o último Bonaroo, quando ele culpou o Pearl Jam, que fez um puta show e demorou um pouco mais no palco, pelo atraso dele de quase 3 horas. Agora, ele me fez saber que existe uma tal de Taylor Swift, embora não tenha a menor idéia do que ela toca ou canta. E assim o cara ocupa espaço na minha memória que, a essa altura do campeonato, está apinhada de informações inúteis. Mas, como diz um amigo meu, do lado do botão caos tem o dane-se. É só escolher o que vai apertar. Vou apertar, mas não vou apertar agora…
gosto do green day e não paro de pensar em uma música deles, wake me up when september ends….É isso, alguém me acorde mais na frente.
bjs
18 setembro 2009 às 7:55 am
Orlando
O botão “danem-se eles” parece mesmo a melhor opção, Patty, até para que nossa atulhada memória – a minha também tem mais porcaria do que eu ousaria confessar – tenha um certo alívio e a gente possa voltar a dizer: Kanye… quem?
Beijo.
18 setembro 2009 às 6:45 pm
Breno
aquela noite tomou outros rumos e fui parar alguns quarteirões adiante no baixo augusta. a gente podia fazer um bota-fora do câni oeste, que vai para o outro lado do universo, longe até de nossa memória. chama o érico, o sérgio, o fernando e mais todos, vê uma noite em que todos possam, escolhe um boteco e o resto é conseqüência.
19 setembro 2009 às 7:46 am
Orlando
Excelentes sugestões, Breno: xô Kanye + boteco. Vamos a ela.
19 setembro 2009 às 11:30 am
José Américo de Melo
Violeta, na Augusta. Cervejas + pizzas aperitivas.
19 setembro 2009 às 1:14 pm
Yan
Nosso cu é de Jesus:
20 setembro 2009 às 9:21 am
Orlando
Não menos excelente sugestão, Érico. Que me dizem da quarta-feira vindoura?
Concordo com o pastor de todo coração, Yan, mas você percebeu que é dublagem, né?
20 setembro 2009 às 8:13 pm
Yan
Cara, não é dublagem não. Acontece que pegaram o som da mesa em canais separados. Repare que o camarada da platéia quando fala, abrem o canal dele. E o clipe está no site oficial do pastor. Mas olhe isso aqui e me diga o que aconteceu com o guitarrista do Marillion, será ele o fóssil vivo do Homo-Porcus?
20 setembro 2009 às 8:22 pm
Yan
Ah, só prá lembrar, EU SEI que você não concorda uma vírgula com o pastor, Signore Orlando!! TEU PASSADO TE CONDENA!!
20 setembro 2009 às 10:33 pm
Breno
putz, quarta é o único dia em que eu não posso. aliás, tem uma tempestade prevista para quarta, vocês viram?
21 setembro 2009 às 12:10 am
Orlando
Bem, se não é dublagem, há descoordenação visível entre voz e boca, Yan. E eu concordo com ele sim: meus banhos consistem em esfregar papel higiênico no corpo inteiro. Esse negócio do guitarrista aí pode ser como o que aconteceu com o Shawn Lane: excesso de cortisona. Tomara que não, porque o Lane morreu no pulmão de aço.
Não sabia da tempestade, Breno; sexta-feira então, se sobrevivermos?
21 setembro 2009 às 7:55 pm
José Américo de Melo
Sexta!
22 setembro 2009 às 8:53 pm
Orlando
Sexta, Érico e Breno? Violeta? A partir das 19h30? Falta apenas Sérgio e Donato responderem.
22 setembro 2009 às 9:58 pm
José Américo de Melo
Yo, bro!
22 setembro 2009 às 10:43 pm
Breno
combinado. sexta, 19:30, no violeta.
23 setembro 2009 às 11:36 am
Orlando
Deal.
23 setembro 2009 às 1:23 pm
júlia
vou botar pra fora é a minha risa hahahahahahahahahahahaha adorei
besos de português
23 setembro 2009 às 5:33 pm
Orlando
Bãijitos, ó J’lita.
23 setembro 2009 às 9:09 pm
Yan
VÃO!!! VÃO TODOS LÁ ENCHER A CARA E ME DEIXEM!!!
ME DEIXEM AQUI!!
OH, Snif!!