2745778Entre os anos 2000 e 2001, eu acompanhava a troca de e-mails abertos entre Ivan Lessa e Mário Sérgio Conti no UOL – troca que acaba de virar esse livro cuja bonita capa está aí ao lado. Lia por causa do Lessa e não do Conti. Não que o Conti seja ruim nem nada, mas quem ganha do Ivan Lessa atualmente quando o assunto é escrever em português brasileiro? Para mim, ninguém. Pois eu ia lá, lia e gostava muito dele, e menos mas também bastante do Conti (de longe o mais afetado dos dois, o mais “intelectualmente exibicionista”, como diz a imbecil crítica do imbecil crítico da imbecil página de entretenimento do imbecil UOL). Havia um lugar para que os leitores comentassem, chamado de “Mural” – a palavra parece mais tonta hoje do que há nove anos, mas na época já parecia bem idiotinha, tanto que Lessa chamava os comentaristas de “muralistas”, caçoando muito de todos. Eu era um deles: muralizava às vezes com meu nome, às vezes como uma bicha “regenerada” que discutia com outro muralista (que eu nunca soube quem era) as delícias da vida straight: ir à feira com a namoradinha nova, por exemplo. Quase inesquecível mural, como quase inesquecível é mais alguém que conheci ali, e a quem por um triz não fiz a besteira de mandar um exemplar de presente.

Estou pela metade desse livro, que inclui também os e-mails que os autores trocaram entre si, de forma particular, durante aquele tempo, e que está também vitaminado com algumas notas de rodapé muito zombeteiras (provavelmente, pelo jeitão, do Conti). Embora as muitas alusões gozadoras aos “muralistas”, parece, tenham sido suprimidas, isso na verdade não importa: é tudo uma delícia. O preço é 45 paus, mas quem for na Cultura tira, por enquanto, a 32. Vão lá.

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Tenho amigos místicos – alguns comentam aqui – que dizem, uns com pompa, outros em tom normal, que coincidências não existem. Eu, sem pompa mas também sem humildade, confesso que disso nada sei. Prefiro manter minha fé em que existam sim coincidências, e que elas são os buraquinhos que a(s) divindade(s) deixou(aram) no seu plano para que a realidade respire um pouquinho, não sufoque dentro da caixinha.